Em carta, irmão de Campos defende candidatura de Marina
Em resposta, o presidente
nacional do PSB, Roberto Amaral, disse que a direção do partido tomará a
decisão “quando julgar oportuno"
Marcela Mattos, de Brasília, e Laryssa Borges, de Recife
Antônio Campos, irmão do ex-governador, em Recife
(Alexandre Gondim/JC Imagem/Folhapress)
Em meio ao silêncio do PSB, o advogado Antônio Campos, único irmão
de Eduardo Campos, morto em acidente aéreo na quarta-feira, defendeu
nesta quinta-feira que a ex-senadora Marina Silva assuma a candidatura
do partido à Presidência da República. Em carta aberta enviada à cúpula
da legenda, Antônio afirma que o pedido, além de ser uma “posição
pessoal”, representa também “a vontade de Eduardo”. Para
Antônio, Marina e um vice ainda a ser escolhido teriam condições de
fazer “o debate que o Brasil precisa fazer nesse difícil momento, em
busca de dias melhores”.
“Como filiado ao PSB, membro do Diretório Nacional com direito a
voto, neto mais velho vivo de Miguel Arraes, presidente do Instituto
Miguel Arraes – IMA e único irmão de Eduardo, que sempre o acompanhou em
sua trajetória, externo a minha posição pessoal que Marina Silva deve
encabeçar a chapa presidencial da coligação Unidos Pelo Brasil liderada
pelo PSB, devendo a coligação, após debate democrático, escolher o seu
nome e um vice que una a coligação e some ao debate que o Brasil precisa
fazer nesse difícil momento, em busca de dias melhores”, afirma o irmão
de Campos. E conclui: “Tenho convicção que essa seria a vontade de
Eduardo”.
Com a repentina morte do ex-governador de Pernambuco em um acidente
aéreo, o PSB tem um prazo de dez dias para definir a chapa que disputará
o Palácio do Planalto. Marina Silva, por enquanto, mantém suspense e
afirma que somente irá se manifestar depois do enterro de Eduardo Campos
- ainda sem data definida. Partidos adversários e o próprio PSB, no
entanto, já trabalham com essa hipótese.
Na carta intitulada “Não vamos desistir”, em referência à declaração de Eduardo Campos em entrevista ao Jornal Nacional (“Não
vamos desistir do Brasil”), o irmão Antônio diz que a “perda afetiva do
único irmão é imensa, mas é grande a perda do líder Eduardo Campos,
politico de talento e firmeza de propósitos”. “A nossa família tem mais
de 60 anos de lutas políticas em defesa das causas populares e
democráticas do Brasil. O meu avô Miguel Arraes foi preso e exilado, não
se curvando à ditadura militar. Eduardo Campos continuou o seu legado
com firmeza de propósitos, tendo trazido uma nova era de desenvolvimento
para Pernambuco”, disse. “Desde 2013 vinha fazendo o debate dos
problemas e do momento de crise por que passa o Brasil, querendo fazer
uma discussão elevada sobre nosso país. Faleceu em plena campanha
presidencial, lutando pelos seus ideais e pelo que acreditava”, afirmou,
em carta.
E continuou: “O mundo está nas mãos daqueles que têm coragem de
sonhar e de correr o risco para viver os seus sonhos pessoais e
coletivos. Ambos faleceram, no dia 13 de agosto, e serão plantados no
mesmo túmulo, no Cemitério de Santo Amaro, em Recife, túmulo simples,
onde consta uma lápide com a frase do poeta Carlos Drummond: “ tenho
duas mãos e o sentimento do mundo”. Essas sementes de esperança e de
resistência devem inspirar uma reflexão sobre o Brasil, nesse momento,
para mudar e melhorar esse país, que enfrenta uma grave crise, sendo a
principal dela a crise de valores. Não vamos cultivar as cinzas desses
dois grandes líderes, mas a chama imortal dos ideais que os
motivava”. Na quarta-feira, após passar grande parte do dia na casa da
família de Campos, na Zona Norte do Recife, Antônio Campos havia
prometido que se manifestaria oficialmente ao PSB em favor da indicação
de Marina Silva.
Resposta – Em resposta à pressão por um
posicionamento, o presidente nacional do PSB, Roberto Amaral, divulgou
nota nesta quarta-feira em que diz que a direção do partido tomará,
“quando julgar oportuno, e ao seu exclusivo critério, as decisões
pertinentes à condução do processo político-eleitoral”. Amaral disse
ainda que o partido está de luto e “recolhe-se, neste momento, cuidando
tão somente das homenagens devidas ao líder que partiu”.
Família - Nesta quinta-feira, políticos e familiares
continuaram a homenagear Eduardo Campos com visitas à casa do político,
no Recife. A família permanece reclusa e nem a viúva nem os filhos do
casal se pronunciaram publicamente. Ainda nesta tarde, por intermédio do
ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), José Múcio Monteiro, o
ex-presidente Lula, que teve Eduardo Campos como ministro da Ciência e
Tecnologia, deve falar por telefone com a viúva do político, Renata.
Lula prestou condolências à ministra Ana Arraes, mãe do candidato, nesta
quarta.