terça-feira, 29 de abril de 2014

Lula errou: julgamento do 'mensalão' foi 100% político

brasil247.com 29 Abril de 2014 - 09:04

  
Se você, caro leitor, ainda acredita na tese de que o julgamento da Ação Penal 470 foi estritamente técnico, pense no caso de Simone Vasconcelos, ex-gerente financeira de uma agência de publicidade de Marcos Valério. Ou em Vinícius Samarane, um funcionário de segundo escalão do Banco Rural. Esqueça, por um momento, os nomes de réus notórios, como José Dirceu, José Genoino e Roberto Jefferson. Tente agora responder, com franqueza e honestidade intelectual: por que, afinal, Simone e Vinícius estão presos, como se fossem bandidos de alta periculosidade?
Ambos são personagens mequetrefes da engrenagem que ficou conhecida como "mensalão". Não têm qualquer glamour, mas foram incluídos, na peça inicial de acusação, como integrantes do núcleo financeiro da "quadrilha". Evidentemente, nenhum deles desfruta do foro privilegiado. No entanto, foram julgados diretamente pelo Supremo Tribunal Federal, justamente por terem sido considerados parte de uma quadrilha, uma organização criminosa indissociável.
Ocorre, no entanto, que o Brasil, signatário do Pacto de San José, da Costa Rica, concede a todo e qualquer cidadão o duplo grau de jurisdição. O que significa que ninguém pode ser condenado em definitivo sem, ao menos, uma possibilidade de recurso a uma instância superior. Isso vale para assassinos, traficantes, estupradores, pedófilos, terroristas e políticos procurados pela Interpol, como Paulo Maluf, mas não valeu para Simone e Vinícius, assim como para vários outros réus.
Qual é a explicação? Ah, eles faziam parte de uma "quadrilha". Ocorre, no entanto, que o crime de quadrilha foi derrubado pelo próprio Supremo Tribunal Federal na votação dos embargos. Ou seja: a acusação desmoronou, mas as penas estão sendo cumpridas por dois cidadãos brasileiros – privados de um direito essencial – como se a tese ainda permanecesse de pé. E não apenas pelos dois, mas por vários outros condenados sem foro privilegiado, como Kátia Rabello, José Roberto Salgado, Marcos Valério e até José Dirceu.
Considere, então, apenas por hipótese, que o argumento da quadrilha tenha alguma validade. Por que o chamado "mensalão" petista foi classificado desta maneira, ao contrário do "mensalão" tucano, organizado pelos mesmos personagens? Graças a essa diferença conceitual, o ex-governador de Minas Gerais, Eduardo Azeredo, que tinha o foro privilegiado, ao contrário de Simone e Vinícius, pôde retornar à primeira instância – o que fará com que seu caso prescreva antes que complete 70 anos. Seu "mensalão", ao contrário do que envolvia o PT, chegou fatiado ao STF. Enquanto réus sem foro privilegiado, como Walfrido dos Mares Guia e o tesoureiro Claudio Mourão caíram em primeira instância, beneficiando-se assim da prescrição, Azeredo subiu ao STF. Mas sua renúncia ao mandato parlamentar, numa explícita fuga da espada suprema, garantiu a ele o duplo grau de jurisdição – benefício negado aos personagens mequetrefes da Ação Penal 470.
Se esse argumento ainda não lhe convenceu de que a Ação Penal 470 foi um julgamento político, pense então no porquê da quadrilha ter sido montada com 40 personagens pelo então procurador-geral Antonio Fernando de Souza, em sua denúncia original. Não terá sido para alimentar a mítica imagem de que o Brasil era governador por um Ali Babá e seus 40 ladrões, tema, aliás, de capa de uma notória revista semanal? Por que não 37, 38, 39, 41, 42 ou 43? Afinal, outros personagens, inclusive o atual prefeito de uma grande capital, que sacou R$ 3 milhões do chamado "valerioduto", foram deixados de fora da denúncia. Qual é a explicação?
Não há explicação, assim como não há justificativa para que o caso seja tratado como "mensalão", palavra que pressupõe a existência de uma mesada, ou de pagamentos regulares a parlamentares. Todas as perícias realizadas por órgãos técnicos e pela própria Polícia Federal comprovam que os saques no Banco Rural foram realizados uma única vez. Ou seja: serviram para pagar dívidas de campanha de políticos do PT e da base aliada. Foi um caso típico de caixa dois eleitoral – o que, obviamente, não elimina sua gravidade. Apenas não foi "mensalão". E o mais engraçado é que o próprio criador da palavra, Roberto Jefferson, admitiu, publicamente, que se tratava apenas de uma figura retórica.
Passemos, então, aos casos concretos. Por que João Paulo Cunha, ex-presidente da Câmara dos Deputados, está condenado e preso por peculato, acusado de desviar verbas de publicidade da Câmara dos Deputados, se todos os recursos desembolsados pela casa foram efetivamente transferidos para o caixa de empresas de comunicação, como Globo, Folha e Abril, conforme atestam diversas perícias? E se alguma dessas empresas bonificou agências de publicidade, o fez seguindo suas políticas internas.
Como acreditar, então, no desvio milionário de verbas do Banco do Brasil, se as campanhas de publicidade da Visanet – uma empresa privada, diga-se de passagem – foram efetivamente realizadas e comprovadas? Pela lógica, é impossível que R$ 170 milhões tenham sido desviados para os cofres do mensalão e, ao mesmo tempo, transferidos para veículos de comunicação que executaram as campanhas da Visanet.
Afora isso, e o caso de José Dirceu, condenado sem provas, segundo juristas à esquerda, como Celso Bandeira de Mello, e à direita, como Ives Gandra Martins? Ou condenado por uma teoria, a do "domínio do fato", renegada por seu próprio criador, o jurista alemão Claus Roxin. Como explicar sua condenação sem admitir a hipótese levantada pelo ex-presidente Lula de que a Ação Penal 470 foi, sim, um julgamento político?
Não apenas político, mas construído com um calendário feito sob medida para sincronizá-lo com as eleições municipais de 2012. E transformado em espetáculo midiático por grupos de comunicação que têm uma agenda política intensa, mas não declarada. Uma agenda que pode ser sintetizada no objetivo comum de desmoralizar e criminalizar um partido político que, a despeito dos ataques de adversários e dos seus próprios erros internos, ainda representa os anseios de uma parte considerável da sociedade brasileira.
Aliás, na nota em que afirma que as declarações de Lula merecem "repúdio" da sociedade, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, exalta o fato de as sessões terem sido transmitidas ao vivo, como num reality show. Foi exatamente essa mistura entre Justiça, da qual se espera sobriedade, e Big Brother que permitiu que o julgamento se tornasse ainda menos técnico – e mais político. Aos ministros, transformados em astros de novela, o que mais interessava era estar bem na foto – ou escapar da faca no pescoço apontada por colunistas supostamente independentes.
Prova cabal disso foi o que aconteceu com Celso de Mello, às vésperas de definição sobre se deveria aceitar ou não os embargos infringentes. Seu voto foi adiado, numa chicana conduzida pelo próprio presidente da corte, para que revistas semanais pudessem pressioná-lo antes do voto decisivo – uma pressão, registre-se, que, no caso do decano, resultou infrutífera.
Se não bastassem os abusos do processo em si, como entender então o realismo fantástico da execução penal, que transformou o presidente do Supremo Tribunal Federal em carcereiro-mor da Nação? Sim, Joaquim Barbosa chamou para si todos os passos da execução das penas. E escolheu o mais notório dos réus, o ex-ministro José Dirceu, como objeto de sua vingança. Mantê-lo preso, em regime fechado, e impedindo-o de exercer o direito ao trabalho, contrariando a decisão do próprio plenário da corte, bem como a recomendação do Ministério Público Federal, é uma decisão técnica ou política? Se for técnica, que Joaquim Barbosa se digne a explicá-la à sociedade.
O fato concreto é: em Portugal, Lula disse uma verdade quase absoluta, mas nunca uma verdade doeu tanto na elite brasileira. Aliás, uma verdade que só não foi completa porque Lula errou na matemática. O julgamento da Ação Penal 470 foi 100% político. O que falta agora a Lula é se mostrar efetivamente solidário a seus companheiros, que, sim, eram e ainda são de sua confiança.

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Para Lula, julgamento do mensalão teve 80% de decisão política

Ex-presidente disse em Portugal que petistas condenados pelo STF  "não são de sua confiança"
Agência Estado

"Acho que essa história vai ser recontada", disse o ex-presidenteReprodução de vídeo
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse em entrevista exibida neste domingo a uma TV portuguesa que o julgamento do processo do mensalão teve viés político e que os petistas presos por envolvimento no caso "não são de sua confiança".
Em novembro do ano passado, o STF (Supremo Tribunal Federal ) decretou a prisão de três integrantes da cúpula petista por participação no esquema de compra de apoio político no Congresso no início do governo Lula, entre 2003 e 2005. Foram presos o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu; ao ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares; e ao ex-presidente nacional do partido, José Genoino.
— O mensalão teve praticamente 80% de decisão política e 20% de decisão jurídica. O que eu acho é que não houve mensalão.
Procurador-geral rejeita pedido de quebra de sigilo telefônico do Planalto
Essa foi uma das poucas manifestações públicas que o ex-presidente fez sobre o caso após o fim do julgamento. Em seguida, Lula interrompeu a repórter, que começou uma pergunta sobre o fato de pessoas da confiança do ex-presidente terem sido presas.
— Não se trata de gente da minha confiança.
E remendou: "Tem companheiro do PT preso. E eu também não vou ficar discutindo a decisão da Suprema Corte. O que eu acho é que essa história vai ser recontada".
Lula esteve em Portugal para participar da comemoração dos 40 anos da Revolução dos Cravos.
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domingo, 27 de abril de 2014

Alckmin quer apoio federal para atender haitianos

Nas duas últimas semanas, cerca de 500 haitianos chegaram a São Paulo. A expectativa é de que o fluxo continue

por Agência Estado
 
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), quer o apoio do governo federal para atender os refugiados haitianos que estão chegando à capital paulista procedentes do Estado do Acre. Ele determinou à secretária de Estado da Justiça e Defesa da Cidadania, Eloisa de Souza Arruda, que busque a interlocução com órgãos da União para fazer frente à nova demanda. "A secretária já está conversando com o governo da União para fazermos um trabalho articulado, como tem que ser feito."
A secretária havia reclamado do desembarque de haitianos na capital paulista com passagens pagas pelo governo do Acre. Ela chegou a ser acusada de preconceito pelo governador daquele Estado, Tião Viana (PT). Nas duas últimas semanas, cerca de 500 haitianos chegaram a São Paulo. A expectativa é de que o fluxo continue.
Em Itu, onde inaugurava uma agência do Poupatempo, o governador optou por minimizar o conflito e disse que a questão é humanitária e deve ser tratada com prioridade. "Mas não é um problema que pode ser resolvido de forma isolada."
Alckmin disse que, ao sair de casa pela manhã, recebeu informações de sua esposa, a presidente do Fundo Social de Solidariedade do Estado, Lu Alckmin, de que os haitianos já estavam melhor acomodados. "Estamos iniciando a capacitação do nosso pessoal, especialmente aqueles que falam o francês (língua falada no Haiti), para encaminhar essas pessoas para o mercado do trabalho."
A articulação com o governo, num primeiro momento, visa ao fornecimento da documentação necessária para que os haitianos que assim o desejem possam permanecer e trabalhar no Estado de São Paulo.
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), quer o apoio do governo federal para atender os refugiados haitianos que estão chegando à capital paulista procedentes do Estado do Acre (Foto: Edson Lopes)
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), quer o apoio do governo federal para atender os refugiados haitianos que estão chegando à capital paulista procedentes do Estado do Acre (Foto: Edson Lopes)

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sábado, 26 de abril de 2014

Delfim tinha esquema para tomar o governo, dizem documentos da ditadura militar

Por Vasconcelo Quadros - iG São Paulo | - Atualizada às

    Relatórios de órgãos de informação da época concluem que ex-ministro - homem forte do regime - teria alavancado esquema de corrupção para chegar ao Palácio do Planalto

    Dois relatórios de órgãos de informação do regime militar encontrados no Arquivo Nacional, em Brasília – um da Aeronáutica e outro do Exército –, aos quais o iG teve acesso, insinuam que o ex-ministro Delfim Netto, czar da economia da ditadura, teria alavancado um esquema de corrupção para pôr em prática um plano que o levaria ao governo de São Paulo em 1974 e, depois, ao Palácio do Planalto.
    50 anos do golpe: a ação militar que mergulhou o País em 21 anos de ditadura
    Junho de 2013: Delfim Netto diz que não sabia de torturas na ditadura e defende o AI-5
    Os dois informes foram produzidos em períodos distintos. O primeiro, de maio de 1969, é uma espécie de alerta da comunidade de informação ao governo militar. Diz que o homem forte do regime, “movido por ambição pessoal desmedida”, fez pactos com grupos econômicos nacionais e internacionais com a intenção de chegar ao topo do poder.
    “Seu objetivo imediato é enriquecimento pessoal. Seu objetivo mais remoto é o de sustentação financeira de um plano político que o conduziria ao governo do Estado de S. Paulo, na pior das hipóteses”, descreve o informe. Em seguida o autor sugere: ”Delfim Netto aspira à própria Presidência da República”.
    Câmara Municipal de São Paulo
    Delfim Netto depôs à Comissão Municipal da Verdade de São Paulo em junho de 2013
    Informado pelo iG sobre o conteúdo dos relatórios através de e-mail enviado a sua assessoria na quinta-feira, 17, Delfim não respondeu. Informes, como se sabe, são peças parciais e incompletas de espionagem e, sozinhos, não têm valor jurídico. No caso de Delfim, revelam que ele era bombardeado pelo fogo amigo dentro do próprio regime militar, num período encoberto pela censura imposta pelo Ato Institucional nº 5 (AI-5), do qual foi defensor e signatário.
    O ex-ministro foi alvo constante de monitoramento. Em sua pasta no Arquivo Nacional, além de um suposto plano de sequestro pela esquerda armada, abortado entre o fim 1969 e início 1970 pelos próprios órgãos de informação, há fartura de referências citando supostos esquemas de corrupção. Em 1974, antes de assumir o governo, o ex-presidente Ernesto Geisel recusou a indicação de Delfim para o governo paulista, embora o pedido tenha partido de seu antecessor, o general Emílio Garrastazu Médici.
    Comissão Nacional da Verdade conclui que JK morreu em acidente e não assassinado
    Leia mais: Mobilização tenta apagar símbolos da ditadura que dão nome a ruas no País
    Em entrevista ao jornalista Roberto D’Avila, da Globonews, sobre os 50 anos do golpe, Delfim contou ter ouvido de Médici que Geisel argumentou que os militares temiam perder o poder com sua eventual ascensão à política. “Não quero porque ele, com a Avenida Paulista, vai tomar o governo”, teria dito Geisel a Médici, segundo Delfim.
    Reveja imagens do golpe militar:
    Estudantes protestam contra o golpe militar no centro de São Paulo. Foto: Arquivo Brasil Nunca Mais
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    Joia da coroa
    O suposto esquema de corrupção é detalhado num relatório de 14 páginas difundido no governo pelo Centro de Informação do Exército (CIE), o informe número 721, de 21 de dezembro de 1971, com o título “Ministro Delfim Neto – Villar de Queiroz”. É uma referência ao ex-diplomata José Maria Villar de Queiroz, que foi
     
     
     
    embaixador, assessor do Ministério da Fazenda e encarregado de negociações externas. O informe diz que ele foi personagem “indispensável” e “figura mais importante do esquema Delfim, por se tratar de pessoa com importantes ligações na área internacional”. Procurado pelo iG através de um e-mail de contato fornecido pelo Ministério de Relações Exteriores, Villar de Queiroz não retornou.
    O informante do CIE traça um perfil de Villar de Queiroz para insinuar que o diplomata, em nome do então ministro da Fazenda, atendia pedidos de Delfim e, ao mesmo tempo, representava os interesses de grupos internacionais fortes àquela época, como o Safra, Sammy Cohen, León, José Cândido Ferraz e Pacovitch. “Há, ainda, os grupos internacionais, de banqueiros e operadores em financiamentos na área do eurodólar”, escreve o informante.
    Segundo o informe, Villar de Queiroz era o responsável pelas negociações internacionais (inclusive do reescalonamento da dívida) de todos os ministérios importantes ao longo dos sete anos (entre 1967 e 1974) em que Delfim reinou como o civil mais importante no regime militar.
    A estratégia do então ministro, diz o relatório, era controlar integralmente as áreas de fazenda, finanças, comércio exterior e o que na época era considerada a joia da coroa, o Instituto Brasileiro do Café (IBC), a autarquia mais importante do governo no comércio internacional - responsável à época por exportações da ordem de US$ 1 bilhão por ano.
    Primeiro-ministro
    O informe diz ainda que para tocar os negócios internacionais Delfim montou o “grupo do Ministério da Fazenda”, que controlavam os mais importantes cargos públicos e comandavam empresas privadas com interesses no governo. Além do ex-embaixador, lista outros onze nomes.
    Para manter o funcionamento da máquina e a boa imagem da política econômico-financeira de Delfim, o gabinete do ministro, através de um assessor de imprensa, mantinha, segundo o relatório, um esquema poderoso junto aos veículos de comunicação. (...) “Política que interessa, sobretudo, aos grupos internacionais (...) que atua no Brasil em termos de agiotagem oficializada”, escreve o agente.
    A rede, segundo o informe, mexia em todas as peças sensíveis do governo e da iniciativa privada para garantir poderes a Delfim. “Não resta dúvida de que jamais houve um esquema tão poderoso no Ministério da Fazenda, esquema que reúne a corrupção e a subversão de esquerda; negócios internacionais, intrigas políticas na área do governo; sinecuras para os elementos do grupo; tratamento desigual para os que não se integram ou não cooperam; manipulação de imensas verbas do ministério; permuta de interesses em detrimento do governo”, escreve o informante.
    O relatório conta que um ex-presidente do IBC Mário Penteado Faria e Silva foi derrubado do cargo porque resistiu aos “negocistas do café”, que queriam fechar transações na modalidade de “contratos especiais” com o governo.
    O informante detalha um suposto caso de adulteração: um dos homens de Delfim, quando ocupou interinamente a presidência do IBC, teria usado um líquido especial - “um método primário” - para apagar os números de um contrato e, no lugar, colocado uma quantidade bem maior do produto, como supostamente queria o comprador, a extinta gigante americana de alimentos, General Foods. O ex-presidente da autarquia estava em Londres na ocasião e, ao retornar, foi substituído por insurgir-se contra os “contratos especiais”.
    A conquista do IBC, segundo o relatório, teria multiplicado a influência de Delfim. “Ele representa, sem sombra de dúvida, a maior força dentro do governo, um verdadeiro primeiro-ministro sem as desvantagens da oficialização do cargo de premiê”.
    O relatório descreve uma teia de conspiração política traçada por Delfim para livrar-se de adversários internos, até tornar-se o ministro mais poderoso do regime militar. A última meta, depois de assumir o controle sobre fazenda, finanças e negócios internacionais, seria conquistar o Instituto de Resseguros do Brasil (IRB), com o que conquistaria “poder total na área financeira”.
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