Em 10 anos, homicídio de mulheres cresce 500% em Roraima, diz estudo
Dados fazem parte do Mapa da Violência 2015 divulgados nesta segunda.
Em 2013, último ano do estudo, estado teve taxa de 15,3 a cada 100 mil.
De acordo com pesquisa, número de homcídios de
mulheres cresceu 343% em 10 anos no estado
(Foto: Cláudio Nascimento/TV TEM)
O número de homicídios contra mulheres cresceu 500% nos últimos dez
anos em Roraima, conforme o "Mapa da Violência 2015: Homicídios de
Mulheres no Brasil". O estudo, divulgado nesta segunda-feira (9), revela
que entre 2003 e 2013, o número de homicídios de mulheres pulou de 6
para 36 no estado. Veja o Mapa da Violência completo.
Os dados colocam Roraima no topo do ranking de crescimento de
assassinatos de mulheres no Brasil durante o período. Conforme a
pesquisa, em 2003 foram 6 homicídios e em, 2013 36 casos.
Ao considerar as taxas dos estados com mais de 100 mil habitantes,
Roraima também ocupa o primeiro lugar, com uma taxa de 15,3 homicídios e
crescimento de 349%. O estado é seguido pelo Espírito Santo (9,3),
Alagoas (8,6), Goiás (8,6) e Acre (8,3).
Na lista de capitais, Boa Vista
também fica entre as três primeiras cidades onde ocorreram mais mortes.
Em 2003 foram apenas quatro casos, enquanto que em 2013 foram 14. Os
números representam um aumento de 250% no índice de homicídios na
capital.
Mulheres negras são as principais vítimas
O Mapa da Violência também revelou que as mulheres negras foram mais
vitimadas pelo crime de homicídio no período pesquisado. Entre elas
também houve maior crescimento no estado. Em 2003 cinco mulheres negras
foram mortas, enquanto quem em 2013, o número subiu para 14, gerando um
crescimento de 180%.
Entre as mulheres brancas os índices são bem menores: em 2003 foi
apenas um caso e uma década depois nenhum homicídio foi registrado. Com
isso, o dado não teve nem queda, nem aumento no período analisado.
Agressores
O estudo mapeia ainda se os agressores são pessoas conhecidas ou
desconhecidas das vítimas. Em grande parte do país, os principais
agressores são conhecidos, o que comprova que a violência contra
mulheres acontece mais frequentemente em ambientes conhecidos das
vítimas.
Em Roraima, no entanto, os números não são tão diferentes: em 2013,
5.841 mulheres foram agredidas por pessoas desconhecidas, enquanto que
apenas 5.815 sofreram violência por parte de conhecidos.
Ainda segundo a pesquisa, a quantidade de mulheres atendidas pelo
Sistema Único de Saúde (SUS) vítimas de violência em Roraima foi 202%
superior a de homens. Enquanto foram 628 mulheres atendidas em 2014, 211
homens receberam o mesmo tipo de atendimento.
O que o Governo diz
Em entrevista ao G1, a coordenadora geral de Políticas
Públicas para as Mulheres, Maria Eva Barros Ferreira, disse que o
estado está trabalhando para reduzir os dados e proteger a população
feminina, uma vez que os altos números registrados no estado podem ser
associados a falta de políticas públicas exclusivas para as mulheres.
"Penso que o que pode ter levado a esses altos números foi a falta de
gestão específica para políticas públicas voltadas as mulheres. Acredito
nisso, porque já existem outras instituições voltadas a isso, mas
faltava um trabalho direcionado, um olhar especial para essa questão",
declarou.
Em contrapartida, ela afirma que desde o início do ano, várias
atividades foram iniciadas pelo governo do estado no sentido de evitar a
violência contra as mulheres. Dentre elas, está a construção da Casa da
Mulher Brasileira, além de melhorias nas instalações do Instituto
Médico Legal (IML), onde as vítimas de violência costumam ser recebidas.
"Realizamos palestras em escolas e trabalhamos para implentar o
programa 'Patrulha da Maria da Penha' que consiste em colocar
tornozeleiras nos agressores e fornecer dispositivos às vítimas. Desta
forma, quando houver medida protetiva, o agressor fica totalemte
impedido de se aproximar da mulher, e caso o fizer, um alarme automático
acionará a polícia", detalhou.
Ainda segundo Eva, com a implentação de novos mecanismos de proteção à
mulher, a expectativa é reduzir os casos de violência de imediato.
"Trabalhamos no sentido diminuir drásticamente esses índices no menor
tempo possível", encerrou.
Mapa da Violência
O estudo é de autoria do sociólogo argentino Julio Jacobo Waiselfisz,
radicado no Brasil, e analisa dados oficiais nacionais, estaduais e
municipais sobre óbitos femininos no Brasil entre 1980 e 2013, passando
ainda por registros de atendimentos médicos.
O Mapa da Violência é elaborado pela Faculdade Latino-Americana de
Ciências Sociais (Flacso) e o o lançamento da pesquisa conta com o apoio
do escritório no Brasil da ONU Mulheres, da Organização Pan-Americana
da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS) e da Secretaria
Especial de Políticas para as Mulheres (SPM) do Ministério das Mulheres,
da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos.