sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Após críticas do governo Dilma, Aécio diz que rolezinho não é caso de polícia

17/1/2014 14:16
Por Redação - de Brasília e São Paulo


Gilberto Carvalho
Gilberto Carvalho criticou a violência praticada contra quem pratica o ‘rolezinho

A decisão do governo Dilma, de sair em defesa dos jovens que promovem o “rolezinho” nos shoppings, já provocou uma mudança estratégica no discurso do presidenciável tucano Aécio Neves. Na avaliação do Palácio do Planalto, segundo o ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, o apoio à manifestação não apenas serve de antídoto a possíveis atos de vandalismo como ajuda a aproximar a presidente Dilma Rousseff de jovens da periferia, nas redes sociais, neste ano de eleições. Já o PSDB, do qual fazem parte dos senadores Neves (MG) e Aloysio Nunes Ferreira (SP), prefere manter os pobres longe dos shoppings de luxo.
Gilberto Carvalho, defendeu a convivência dos lojistas de shoppings com os “rolezinhos”, disse que os “conservadores deste país” têm de se conformar com o fato de os direitos agora serem iguais para todos e criticou a concessão de liminares para conter os movimentos. “Acho que é possível que se possa conviver, porque são por algumas horas durante uma semana, também não é nenhum fim de mundo”, declarou o ministro no Recife. Ele também criticou a repressão policial que “mais uma vez” botou “gasolina no fogo”. Segundo Carvalho, a concessão de liminares é “no mínimo inconstitucional” para o que chamou de “discriminação”.
– Qual é o critério que você vai usar para selecionar uma pessoa da outra? É a cor, o tipo de roupa que veste? – questionou o ministro.
Ao criticar a repressão policial, o ministro ressaltou, no entanto, que, se houver violência por parte dos manifestantes, o problema aumenta e a defesa do patrimônio passa a ser uma necessidade. Responsável pelo diálogo com os movimentos sociais, o ministro Gilberto Carvalho criticou a repressão policial aos “rolezinhos” em São Paulo e a concessão de medidas liminares, por parte da Justiça, a lojistas de shoppings, receosos com o movimento dos jovens da periferia. A ministra da Igualdade Racial, Luiza Bairros (PT), também acusou a polícia e os frequentadores de shoppings de discriminar jovens negros nos “rolezinhos”.
– As manifestações são pacíficas. Os problemas são derivados da reação de pessoas brancas que frequentam esses lugares e se assustam com a presença dos jovens – afirmou.
Para ela, a liminar que autorizou os shoppings a barrar clientes “consagra a segregação racial” e dá respaldo ao que a PM “faz cotidianamente”: associar negros ao crime.
Mudança de discurso
Logo após o pronunciamento do ministro Gilberto Carvalho, o senador e presidente do PSDB, Aécio Neves tratou de colocar panos quentes e afirmou, ao contrário de seu colega de bancada, Aloysio Nunes Ferreira, que a questão dos encontros de adolescentes da periferia paulistana em shoppings centers “ainda não é uma questão de segurança”.
– É uma questão que tem que ser tratada como fenômeno natural, como nós teremos outros ao longo do tempo – disse Aécio, após participar de um almoço com o governador Geraldo Alckmin, no Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo.
Aécio classificou os “rolés” como fenômeno novo e afirmou “que o diálogo sempre é extremamente importante”. Questionado sobre a posição do governo federal em relação ao tema, Aécio disse achar “saudável que pelo menos eles percebam aquilo que esta acontecendo no país”. De acordo com Aécio, a reação do governo federal tem sido sempre reativa.
– Nós temos no Brasil historicamente um governo federal que reage, que não planeja e não percebe aquilo que vem acontecendo no Brasil – afirmou.
Já o senador Aloysio Nunes Ferreira preferiu desfechar seu ataque pela conta no Twitter. Ele classificou os manifestantes como “cavalões”.
“Domingo, levei meus netos, de 5 e 4 anos, à exposição do “Gloob” no Shopping Morumbi. Imagino como eu e demais avós reagiríamos caso um bando de cavalões cismassem de dar um rolê por lá…”, escreveu ele, em duas postagens seguidas. O “Gloob” a que o senador se refere é o canal infantil de TV paga que mantém uma programação de férias naquele shopping, com seus personagens.
Antes, o tucano já havia atacado as pessoas que defendem o direito de a juventude pobre ocupar espaços até então frequentados apenas por pessoas de classe média.
“Os bacaninhas de sempre fazem agora apologia da nova modalidade de inclusão da periferia, e dão pau na PM com vivas ao rolezinho”, afirmou.
Ainda no campo da direita, outro integrante da direita aliada ao presidenciável Aécio Neves também criticou o governo Dilma. Trata-se do ex-deputado Roberto Jefferson, condenado no julgamento conhecido como ‘mensalão’. Em seu blog, Jefferson – que não teve ainda a sua prisão decretada, ao contrário dos petistas condenados na mesma ação penal – afirma que “em Brasília, Dilma convocou reunião e teme que o movimento ganhe ares de protestos organizados. Sem incorrer no pecado do reducionismo, os ditos cujos parecem ter sido convocados mais para gerar protagonismos instantâneos nas redes sociais do que fruto de uma insatisfação generalizada. Mas que a coisa pode descambar, ah, isso pode”.
Segundo Jefferson, “para prevenir, os shoppings não deveriam abrir nos dias de ‘rolés”.
Adesão do MTST
Na tarde desta quinta-feira, cerca de mil manifestantes ligados ao Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) participaram dos dois “rolezões” na frente dos Shoppings Jardim Sul e Campo Limpo, na Zona Sul paulista. Os centros de compras fecharam portas, temendo tumulto. Mesmo assim o movimento, separado em dois grupos, realizou atos simbólicos nas portas principais.
Notas de real e de dólar foram balançadas no ar pelos jovens, com o intuito de mostrar que eram trabalhadores e consumidores. Um lanche coletivo de pão com mortadela ou queijo foi distribuído aos manifestantes em caixas de papelão.
– Estamos fazendo esse ato em solidariedade ao jovens que foram reprimidos no último fim de semana. Quando a classe média faz ‘rolezinho’ vira flash mob, quando é a periferia tem truculência – afirma Ana Paula Ribeiro, uma das coordenadoras do MTST

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