domingo, 19 de julho de 2015

Delator revela que levava dinheiro de propina nas meias

Rafael Ângulo Lopes diz que chegou a viajar com R$ 200 mil escondidos.

Um dos delatores da Operação Lava Jato chegou a viajar com R$ 200 mil escondidos nas meias. Ele detalhou aos investigadores como entregava o dinheiro de propina aos políticos.
Rafael Ângulo Lopes, braço direito do doleiro Alberto Youssef, contou em delação premiada que começou em 2009 a fazer viagens frequentes para distribuir o dinheiro de propina desviado da Petrobras. Eram de R$ 50 a R$ 200 mil em cada viagem. E, para não chamar a atenção, ele levava os maços de notas de R$ 100 e R$ 50 escondidos nas pernas, em meiões de futebol. Os encontros para a entrega do dinheiro aconteciam em restaurantes, hotéis, aeroportos e estacionamentos.
Em Brasília, as entregas eram, principalmente, em apartamentos funcionais da Câmara dos Deputados. E Rafael contou que uma vez até ganhou uma gorjeta de R$ 500.
Entre os políticos que, segundo Rafael Ângulo, receberam dinheiro, estão o deputado Nelson Meurer, do Partido Progressista do Paraná, e os ex-deputados pelo mesmo partido João Pizzolatti, Pedro Corrêa – que hoje está preso no Paraná – e Mário Negromonte – que foi ministro das Cidades no governo Dilma e atual conselheiro do Tribunal de Contas dos municípios da Bahia.
Todos esses políticos já estão sendo investigados por corrupção e lavagem de dinheiro no Supremo Tribunal Federal, suspeitos de receber propina do esquema de fraudes na Petrobras. E as investigações continuam a revelar novos indícios contra outros políticos.
Sabe aquele carrão do senador Fernando Collor, por exemplo, o Lamborghini apreendido esta semana pela Polícia Federal? Custou R$ 3,2 milhões. Boa parte do valor, R$ 1,2 milhão, foi paga em dinheiro vivo, segundo as investigações. E os pagamentos, classificados como suspeitos pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).
O carro está registrado em nome de Água Branca Participações, uma empresa de Collor que os investigadores consideram ser "de fachada, usada especificamente para lavagem de dinheiro".
Para a Polícia Federal e para o Ministério Público, há fortes indícios de que o carro foi adquirido com dinheiro de origem ilícita. Por isso, a compra dele e o registro em nome da Água Branca podem ser lavagem de dinheiro.
A assessoria do senador Fernando Collor de Mello disse que a Água Branca é uma empresa regularmente constituída e declarada à Receita Federal junto com os seus bens.
Aa defesa de João Pizzolatti informou que ele nega ter recebido propina, mas admitiu que o ex-deputado sabia do caixa dois feito pelo então tesoureiro do Partido Progressista José Janene e que, por causa disso, pode ter tido despesas de campanha eleitoral pagas pelo doleiro Alberto Youssef.
A defesa do deputado Nelson Meurer disse que o cliente também negou ter recebido dinheiro. O advogado de Pedro Corrêa afirmou que o ex-deputado recebeu dinheiro de Youssef porque tinha negócios no setor de agropecuária com José Janene e que, com a morte de Janene, Youssef assumiu o negócio.
Aa defesa de Mário Negromonte disse que o ex-ministro negou qualquer envolvimento com corrupção.
O Partido Progressista informou que está à disposição para colaborar com a investigação.

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