Comunicação
nunca foi uma matéria de grande interesse para a presidente Dilma
Rousseff. Enquanto ela navegava na alta popularidade, pôde prescindir de
uma política de comunicação arrojada, que lhe tem feito muita falta
agora, no tempo das vacas magras. A escolha de Edinho Silva para chefiar
a SECOM, fugindo do script tradicional, tem tudo para ser um acerto.
O
requisito fundamental de um bom ministro-chefe da SECOM não é ser
jornalista, ter boas relações com os coleguinhas ou trânsito com os
donos da mídia. Conhecer os aspectos específicos é importante, mas
essencial é a capacidade para fazer a leitura correta dos fatos
políticos, perceber para onde o vento sopra e desfrutar da confiança do
titular da Presidência, inclusive para falar pelo governo sem ter podido
consultá-lo. Como fazia Franklin Martins no segundo governo Lula, para
não recuar muito. Ou Fernando Cesar Mesquita no governo Sarney, recuando
um pouco mais. Não adianta ter ali um repetidor do que disse o (a)
presidente.
A
Secom também exige capacidade de gestão, pois não se limita à
Secretaria de Imprensa, nela incluída agora a alimentação das redes
sociais, e à atividade de porta-voz. A ela estão vinculados os setores
de publicidade oficial (com verbas que alcançam os R$ 200 milhões), o
departamento de pesquisas e a EBC – Empresa Brasil de Comunicação,
responsável por serviços de comunicação governamental e por canais de
comunicação pública. O projeto segue em construção e precisa ser
fortalecido.
O
que a mídia destacou até agora na escolha de Edinho Silva foi o fato de
ele ter sido tesoureiro da campanha de Dilma no ano passado. Isso já
passou e as contas foram aprovadas. Então, há zero de relação entre uma
coisa e outra. Ele foi escolhido por um conjunto de atributos, não por
isso.
Afora
ter familiaridade com o tema da comunicação e compreender os desafios
que o governo tem nesta área, Edinho Silva é uma liderança interna
importante no PT. É da corrente Construindo um Novo Brasil (CNB), a
mesma de Lula, que foi excluída do núcleo palaciano com a saída de
Gilberto Carvalho. Ele fortalece o vínculo entre Dilma e o partido,
nesta hora em que ela só pode contar mesmo com o PT – vide o que tem
feito o PMDB e o descompromisso da maioria dos partidos da base. Sua
presença no governo também funcionará como uma espécie de ponte entre a
era Dilma e o futuro do projeto petista, com uma candidatura de Lula em
2018. Ele tem a confiança dos dois.
O
novo ministro obviamente terá um secretário de imprensa para cuidar das
relações imediatas com os jornalistas e um secretário-executivo para
tocar a burocracia da Secom. E com isso estará mais livre para agregar
conteúdo político à comunicação do governo, que sob Dilma foi tímida e
equivocada. Muito provavelmente, tal como Gushiken e Franklin, Edinho
terá assento nas reuniões de coordenação política.
Muito
foi dito também sobre pressões do PT para que veículos alinhados com o
governo sejam melhor contemplados com verbas publicitárias, mas este não
é o ponto central. Obviamente qualquer governo deve levar em conta, na
distribuição das verbas, os indicadores de audiência, circulação e
acesso dos veículos mas não pode submeter-se exclusivamente a eles.
Quando faz isso, alegando estar praticando a “mídia técnica”, está
apenas mantendo ou aprofundando as assemetrias existentes, ao invés de
estimular o pluralismo, um nutriente da democracia.
Por
fim, Dilma deixou de errar também a fazer rapidamente a escolha. Na
Secom, uma interinidade prolongada, como outras que estão por aí, seria
fatal para um governo que enfrenta adversidades de toda ordem o tempo
todo.
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