Doação de empresas a campanhas gera debate e reforma política fica para esta quarta
Foi adiada para esta
quarta-feira (2), às 14h, a votação do Projeto de Lei da Câmara (PLC)
75/2015, que trata da reforma política. O relator da matéria, senador
Romero Jucá (PMDB-RR), chegou a sugerir que fosse votado o texto base do
projeto, mas o presidente do Senado, Renan Calheiros, preferiu adiar a
votação. O PLC 75/2015 modifica três leis. Uma delas é o Código
Eleitoral (Lei 4.737/1965). O objetivo, nesse caso, é fortalecer os
partidos, cortar os custos das campanhas e disciplinar as doações e o
repasse do dinheiro do Fundo Partidário. O texto também permite
que empresas e pessoas físicas façam doações às campanhas eleitorais. As
pessoas jurídicas, porém, estão autorizadas a repassar recursos apenas
aos partidos políticos. O valor doado é limitado a 2% da receita do ano
anterior à transferência do dinheiro até o máximo de R$ 10 milhões. Cada
agremiação pode receber 0,5% do total. Ao debaterem a proposta
por mais de três horas no Plenário, um grupo de senadores fez duras
críticas ao fato de o PLC 75/2015 não acabar com o financiamento privado
das campanhas.
O relator da matéria, senador Romero Jucá (PMDB-RR), chegou a sugerir que fosse votado o texto base do projetoO
projeto de reforma política originado na Câmara dos Deputados foi
alterado por uma comissão especial formada por senadores. Relator da
Comissão da Reforma Política, Romero Jucá afirmou que os objetivos da
proposta são os de fortalecer os partidos, reduzir os custos das
campanhas e disciplinar as doações e a distribuição do dinheiro do fundo
partidário. Jucá explicou também que para valer nas eleições
municipais do ano que vem, o projeto deve seguir para sanção
presidencial ainda este mês. - O que vamos votar é uma reforma
infraconstitucional. Vários dispositivos desse projeto de lei já foram
votados neste Plenário. Estamos só replicando no PLC 75, porque ele vai
retornar à Câmara e será votado direto no Plenário daquela Casa. É
importante dizer que após a Câmara votar esse projeto, a presidente
Dilma Rousseff terá 15 dias para sancionar ou não. Portanto, o prazo
está bastante curto - alertou Jucá. Em alternativa ao projeto
foram apresentados diversos destaques, como recomendações de mudanças. O
senador Jorge Viana (PT-AC), que é o presidente da Comissão da Reforma
Política, disse que o trabalho de consolidar uma série de projetos foi
uma satisfação à sociedade. No entanto, de acordo com ele, sem o fim das
coligações nas eleições proporcionais e sem impedir as doações das
empresas para as campanhas eleitorais, a reforma política estará
“capenga”. - As empresas estão privatizando os mandatos. É preciso
tirar as empresas do processo eleitoral. A Constituição estabelece que
apenas participam das eleições o eleitor, o candidato e o partido
político - disse Jorge Viana. O senador apresentou uma emenda que
veda ao partido e ao candidato receber direta ou indiretamente doação de
pessoa jurídica. A proibição não se aplica aos recursos do fundo
partidário e ao acesso gratuito ao rádio e à televisão. O líder do
PT, Humberto Costa (PE), também defendeu o fim do repasse de dinheiro
de empresas às campanhas. Além disso, acredita que após o escândalo da
Lava Jato, as pessoas jurídicas vão frear o ritmo de doações. - Eu
quero fazer uma profecia. Quais serão as empresas que vão doar para as
campanhas do próximo ano? Só aquelas que tiverem relações com
prefeituras, porque vão se sentir coagidas - afirmou. O senador
Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) ressaltou que o principal problema do
sistema político brasileiro é o financiamento de campanhas com dinheiro
das empresas. Randolfe disse que todos os escândalos de corrupção desde
1988 tiveram sua matriz no atual modelo. - Quaisquer outras
mudanças são acessórias se for mantido o que foi aprovado na Câmara, sob
a batuta de Eduardo Cunha, que [quer] é constitucionalizar o
financiamento privado – disse Randolfe. A senadora Fátima Bezerra
(PT-RN) lamentou que o Congresso Nacional não tenha dialogado com os
cidadãos ao elaborar a proposta de reforma política. - É
reconhecido por todos que esse modelo de financiamento existente tem
alimentado a influência do poder econômico, que, por sua vez, tem
trazido distorções, como os casos de corrupção que pautam o sistema
político-eleitoral do nosso País, mas que não são de hoje, afirmou a
senadora. O senador Jader Barbalho (PMDB-PA) fez coro às críticas
ao projeto de reforma política, mas para ele tão importante quanto o fim
das doações de pessoas jurídicas são cláusulas para impedir a
multiplicação de partidos e as coligações nas eleições proporcionais. -
Há partidos que a gente conhece de algumas figuras carimbadas na vida
pública brasileira, mas nada além disso. Só para chegar à época da
eleição e vender o seu tempo de televisão. O sujeito tem um minuto e
aquele minuto vale uma fortuna. Todo mundo sabe dessa sem-vergonhice!
Todo mundo sabe, mas ninguém tem coragem de enfrentar - afirmou Jader. O
senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) reconheceu que o tema é polêmico. Ele
negou que o Congresso tenha se omitido nos últimos anos sobre a reforma
política e disse que o financiamento não pode ser o tema principal da
reforma. O senador ainda manifestou preocupação com o controle sobre
depósitos pessoais de “militantes de sindicatos ou de MST”, que para ele
abririam brecha para a contribuição de empresas. Vanessa
Grazziotin (PCdoB-AM) afirmou que embora seja contra o financiamento
empresarial de campanhas eleitorais, prefere que pessoas físicas,
inclusive empresários, possam fazer doações a candidatos. Por isso, ela
entende que o projeto de reforma política precisa ser ampliado. –
Empresa privada não vota, não participa do processo político. Quem
participa são cidadãos e somente eles devem ter esse direito. Nós não
defendemos financiamento público, mas permitimos que pessoas físicas
possam financiar campanhas, como os donos de empresa dentro de um
determinado limite. Antônio Carlos Valadares (PSB-SE) disse que
gostaria de votar uma reforma política que refletisse os interesses da
sociedade e o sentimento de mudança. O senador observou que o modelo
atual não impõe limites a doações inconsequentes e impensáveis. O
senador Roberto Rocha (PSB-MA), por sua vez, cobrou regras mais claras
para a troca de partidos e que isso seja feito em lei. O senador
Lindbergh Farias (PT-RJ) citou pesquisa feita pelo Instituto Datafolha,
segundo a qual 74% dos brasileiros são contra o financiamento
empresarial nas campanhas. O senador Donizeti Nogueira (PT-TO) avalia
que a manutenção do financiamento privado é um retrocesso. Para ele, o
ideal seria que todas as doações fossem a um fundo, aos moldes do fundo
partidário. Caberia ao Tribunal Superior Eleitoral fazer a distribuição
desse dinheiro. O senador Walter Pinheiro (PT-BA) disse que os
temas que merecem mais atenção na reforma política são as coligações
partidárias, a organização dos partidos e o financiamento de campanhas
eleitorais. O senador opinou que já chegou a hora de acabar com o
financiamento de campanhas por empresas e passar a adotar apenas a
doação por pessoas físicas. - Não dá mais pra ficar dando uma de
Satanás pregando quaresma. A crise [política] foi instalada a partir
desse modelo de financiamento – disse Pinheiro. O senador Telmário
Mota (PDT-RR) criticou as regras de restrição às propagandas
eleitorais, que, em sua opinião, estimulam a desigualdade financeira
entre campanhas eleitorais. Cristovam Buarque disse que a proposta tem
aspectos positivos, como a proibição de contratação de cabos eleitorais,
mas para ele há retrocessos. Ele citou o fato de o projeto limitar o
uso de alto-falantes, por exemplo, que são um meio de os candidatos mais
pobres fazerem campanha. O senador Reguffe (PSB-DF) cobrou mais
transparência nas doações. Disse que o eleitor deveria saber de onde vem
o dinheiro de cada candidato. - As doações ocultas são, na minha
opinião, um retrocesso, porque a pessoa vai doar para um partido, o
partido vai repassar para um candidato, e o eleitor, na hora em que
votar nesse candidato, não terá conhecimento da origem desse dinheiro -
argumentou Reguffe.
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