sexta-feira, 24 de abril de 2015

Com perdas em corrupção, Petrobras tem prejuízo de R$ 22 bi em 2014


Com impacto do lançamento de perdas de R$ 6,194 bilhões relacionadas à corrupção e outros R$ 44,345 bilhões à reavaliação dos ativos, a Petrobras registrou, em 2014, prejuízo de R$ 21,587 bilhões ante o lucro de R$ 23,6 bilhões registrado em 2013.
A divulgação das demonstrações contábeis auditadas de 2014 em atraso, dos dois últimos trimestres e da anual, foi feita ao mercado às 19h23. As do terceiro trimestre estavam atrasadas havia 159 dias, e a anual, 22 dias.
De acordo com a consultoria Economatica, este é o primeiro prejuízo anual da Petrobras desde 1991, quando a estatal registrou perda de R$ 1,2 bilhão, segundo dados ajustados pela inflação.
Editoria de Arte/Folhapress

No ano passado, a receita de vendas da companhia atingiu R$ 337,26 bilhões, alta de 11% ante 2013, graças aos reajustes nos preços do diesel e da gasolina autorizados pelo governo e o efeito do câmbio.
O endividamento total da companhia atingiu R$ 351 bilhões, um aumento de 31% em relação ao ano anterior.
Já a dívida líquida da estatal chegou a R$ 282,1 bilhões. O indicador de dívida líquida sobre geração de caixa saltou de 3,52 para 4,77 - um índice considerado saudável para o mercado é de 2,5. A dívida cresceu por conta das captações e da desvalorização do real.
Com os resultados, o novo presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, afirmou que a empresa não pagará dividendos (parcela do lucro distribuída entre acionistas) neste ano.
METODOLOGIA
A metodologia usada para a baixa por corrupção considerou principalmente os depoimentos em delação premiada feitos por executivos que participaram do esquema de corrupção, na Lava Jato.
Segundo o gerente executivo de Desempenho da Petrobras, Mário Jorge Silva, a empresa considerou os depoimentos "consistentes em relação ao cartel, ao período em que operou, às empresas que participaram e os valores máximos", para efeito de lançamento no balanço.
"Isso nos dá segurança de registrar essa perda no balanço".
Editoria de Arte/Folhapress

Já a baixa por "impairment", ou seja, ajuste nos valores dos ativos em relação à capacidade de gerar receita no futuro e ao que foi investido, foi decorrente da queda no preço do barril, do adiamento de projetos em refino para preservação de caixa e da revisão da demanda em petroquímica.
O preço do petróleo teve impacto negativo de R$ 5,6 bilhões nos investimento de exploração e produção.
O adiamento de projetos em refino levou ao reconhecimento de perda de R$ 21,8 bilhões no Comperj, refinaria em construção no estado do Rio e de R$ 9,1 bilhões na refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco.
As obras das duas refinarias foram alguns dos principais alvos de atuação do cartel que sustentou o esquema de corrupção na empresa.
Foi reconhecida uma baixa de R$ 3 bilhões relativas à Petroquímica de Suape, em Pernambuco.
HISTÓRICO
O lançamento das perdas de corrupção foi exigência da PwC, empresa que audita as demonstrações financeiras da estatal. Foi decorrente da revelação, pela Operação Lava Jato, do funcionamento de um cartel de empresas que, com a participação de diretores da Petrobras, combinava resultados de licitações da companhia, a partir de 2004, e cobrava percentuais entre 1% e 3% para abastecer o esquema, segundo depoimentos.
O esquema veio à tona em outubro, o que levou a PwC a mandar a Petrobras aprofundar as investigações sobre corrupção, atrasando o balanço do terceiro trimestre. Com as evidências do desvio, a empresa teve de calcular o que foi lançado indevidamente como investimento mas que, na verdade, foi desviado em propina.
NÚMERO DESCARTADO
Em janeiro, duas consultorias contratadas por Graça chegou a uma conta que mostrava ativos superavaliados em R$ 88,6 bilhões. Conselheiros e diretores concluíram, porém, que o número incorporava outras perdas além da corrupção, como variação do câmbio e do barril, além de ineficiência dos projetos.
O número, porém, foi revelado ao mercado, deixando a presidente Dilma Rousseff irritada. O episódio gerou uma crise que resultou na saída de Graça e de cinco diretores, no início de fevereiro.
Em 2014, a produção de petróleo da Petrobras no Brasil cresceu 5,3%, abaixo da meta inicial –de 7,5% com um ponto percentual de tolerância para menos.

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